Paula Fernandes explica o sucesso da música sertaneja, fala de superação e namoros e defende as biografias autorizadas

Nada de vestido de chita nem camisa xadrez. O modelo de Paula Fernandes não combina com os estereótipos associados às grandes estrelas da música sertaneja. Ela usa  jaqueta preta de couro, saltos altíssimos, tem a voz grave e encara o entrevistador com um olhar incisivo. Parece uma roqueira. Aos 29 anos e 20 de carreira, a cantora e compositora mineira vendeu 3,2 milhões de discos e arrebatou o Brasil com os 160 shows que faz por ano. Paula falou com ÉPOCA dias atrás, no lançamento da turnê de seu 11º CD, Um ser amor (Universal). Na entrevista, refletiu sobre as razões da universalização do som sertanejo e disse que a chave de seu sucesso foi ter superado a depressão.
 
PRECOCE A cantora Paula Fernandes em São Paulo. Ela começou a  carreira aos 9 anos (Foto: Camila Fontana/ÉPOCA)
ÉPOCA – Em pesquisa recente, o Ibope chegou à conclusão de que o som nacional é o sertanejo. Como a música sertaneja superou o preconceito e passou a ser aceita? 
Paula Fernandes –
 O sertanejo se tornou nacional por causa da linguagem. Acredito que o Brasil é feito não de um interior, mas de vários interiores. Ainda que a pessoa não seja do interior, é música simples, divertida, fala de amor, e todo mundo vive um amor na vida. O Brasil se rendeu à simplicidade. Porque esse é um tipo de música que você toca em qualquer lugar para qualquer público.
ÉPOCA –  Por que o público do samba hoje ouve também sertanejo, algo que não acontecia antes?
Paula –
 Adoro samba. E faço a pergunta: por que a gente tem de ouvir um gênero só? Com tantos sambas, rocks e MPBs maravilhosos, por que restringir? As pessoas perguntam quem sou eu. Eu digo: gente, minha raiz é sertaneja, mas sou representante da música popular brasileira. Sou compositora. Como vou me reprimir se vier a inspiração de fazer um rock? O que vier é sempre muito bem-vindo, desde que me emocione.
ÉPOCA – A senhora cantaria outros gêneros, como MPB e rock?
Paula –
 Gravaria, claro. Seria uma oportunidade de mostrar meu lado intérprete, porque acho brilhante. Gravei outras coisas, um CD em inglês. Foi uma oportunidade maravilhosa. No meu show tem rock. É uma música bem introspectiva. As pessoas me disseram que, num show intitulado Meus encantos, não deveria cantar coisas que são obscuras em mim. E desde quando o encanto tem de ser positivo? O lado obscuro da gente tem seu encanto.
ÉPOCA – A senhora sofreu preconceito durante a carreira?
Paula –
 No começo, sofri preconceito por ser criança e menina. Depois, porque era adolescente. Hoje derrubei muitos preconceitos. Faço o mesmo show para rodeios, para o pessoal corporativo, para a casa de espetáculo. Faço isso com alegria. As pessoas passaram a aceitar que o artista está além da música. 
ÉPOCA – A senhora mostra muita vivência para sua idade.
Paula –
 Acredito que a gente traz uma bagagem de outras vidas. Na última vez que falei isso, me disseram coisas horríveis. Fui batizada na Igreja Católica. Tenho fé em Nossa Senhora e em São Judas Tadeu. Todos são espíritos. Espiritismo é uma doutrina. Quando os espíritas dizem que vivemos outras vidas, não acho mal nenhum. Hoje, quando  assisto a meus vídeos com 8 anos, vejo que não tem lógica eu ter tanta noção das coisas com aquela idade.
ÉPOCA – A senhora é religiosa?
Paula – 
Creio em Deus, oro quando posso. Fazer uma oração antes de dormir é muito importante. Mas não por obrigação social. É um desejo. Sou apegada ao que quero e não ao que as pessoas me impõem como verdade, mesmo porque não acredito que exista certo e errado. Existe aquilo em que a gente acredita e com que se sente bem. Me baseio nisso para viver com os outros e fazer meus trabalhos.
ÉPOCA –  A senhora tem mais de 20 anos de carreira, mas ela só deslanchou mesmo há três anos. Por que a demora?
Paula –
 Sou profissional desde os 9 anos. Com 18, entrei numa depressão bem pesada e voltei para Contagem, Minas Gerais, para me tratar. Houve um momento em que cheguei a parar mesmo. Me tratei com psiquiatra, psicólogo, usei remédio de tarja preta. Tive apoio da família. Foi então que entrei numa fase mágica de autoconhecimento. Encarei minha depressão como uma oportunidade de me tornar alguém melhor e de saber o que queria. 
ÉPOCA –  O que mais a espantou quando virou celebridade?
Paula – 
A perda da liberdade foi o que mais chocou. Foi terrível não poder transitar mais sozinha na rua. Sinto falta da liberdade de ir e vir a que todo mundo tem direito. Mas hoje é impossível. Não sei ficar disfarçada. Não sei usar óculos escuros.
ÉPOCA –  Como a senhora equilibra a vida artística e a pessoal?
Paula –
 O diálogo me ajuda muito. Lá em casa converso com todo mundo: irmã, irmão, cachorro. Até ao cachorro digo: mamãe vai trabalhar. É importante fazer isso. Meu namorado mora em Brasília. Converso muito com ele também.
ÉPOCA –  Quem é ele?
Paula –
 Ele se chama Henrique do Valle e é dentista. Estamos juntos há um ano e meio. A gente concilia. Ele vai aonde estou. É mais difícil eu ir a nossa casa, como chamo a casa de Brasília. Converso muito com ele. É difícil para ele estar do lado de uma pessoa pública. Mas ele é muito inteligente, está se saindo muito bem. Nós dois temos de ter jogo de cintura.
"Evito falar com Roberto Carlos por causa das fofocas sobre um namoro que nunca houve"
ÉPOCA –  O namoro quebrou a regra de que celebridades namoram celebridades.
Paula –
 Por que tem de ser assim? No meu caso, aconteceu tão naturalmente. A gente se conheceu de uma forma tão simples, do jeito que eu queria. Fui andar a cavalo na casa dele lá em Brasília. Tinha 0,00001% de chance de algo acontecer. Mas as coisas, quando têm de ser, elas são. A gente não tem de correr atrás. Se correr atrás, é capaz de achar a pessoa errada.

ÉPOCA –  O grande impulso de sua carreira aconteceu por causa de sua participação no show de fim de ano do Roberto Carlos, há três anos. Como aconteceu? 
Paula –
 Roberto me deu muita força. Nos encontramos no show Emoções sertanejas, em comemoração aos 50 anos de carreira dele. Só entrei no último minuto, porque alguns artistas levaram meu material para ele. Ele, o Dodi Sirena e o Eduardo Lages ouviram o disco e me convidaram para cantar “Caminhoneiro”, com Dominguinhos. Depois disso me convidaram para cantar o hino do Corinthians no centenário do time. No camarim, ele apareceu e disse: “Acho que vou te convidar para o especial de fim de ano”. Eu não cabia dentro do camarim. Foi mágico ele me escolher entre tantas estrelas.
ÉPOCA –  Vocês ainda pretendem fazer mais programa juntos?
Paula – 
A gente quase não tem contato. Evito falar com Roberto Carlos, por causa das fofocas sobre um namoro que nunca houve. Queria ter mais contato com ele. O que me tirou a possibilidade foram os boatos maldosos. É engraçado como as coisas funcionam. Encontrei-me com ele naquele dia, tivemos um ensaio na semana, e ele estava com muita dor. Fiz o show sentada, porque ele não estava bem para fazer o número de pé. Eu estava com o vestidinho tão pequeno, porque só fiquei sabendo que me sentaria na hora de gravar. Dei um abraço nele e já diziam que estava namorando. Fico impressionada com a falta de criatividade do Brasil.
ÉPOCA –  A senhora se sente vítima do sensacionalismo?
Paula –
 Um pouco. E fico me perguntando por quê. Não incomodo ninguém. Sou uma pessoa discreta. Isso incomoda. As notícias sobre mim são sobre meu trabalho. Evito falar da minha vida pessoal. Há pessoas que não respeitam ninguém. São as que inventam a notícia maldosa para criar um grande boato. Isso não é cultura das celebridades, é a ausência de cultura. São coisas que não têm lógica, e as pessoas acreditam. É um processo cruel. Convivo bem com isso. Com o tempo, não vão mais acreditar nisso.
ÉPOCA –  A senhora acompanha a discussão do grupo Procure Saber, que luta para proibir as biografias não autorizadas?
Paula – 
Sou a favor do controle sobre as informações nas biografias. É justo a gente autorizar e saber o que será dito. Não proibiria o biógrafo, mas ia querer saber cada vírgula. Sou a favor de monitorar. Se você, como jornalista, quiser fazer uma biografia minha, terá de fazer um intensivão comigo, vamos precisar conversar muito. Aliás, já tem gente fazendo minha biografia oficial. Tr­a­ta-se da maior especialista no assunto: minha mãe, Dulce. Ninguém pode concorrer com ela no conhecimento de Paula Fernandes, não é?